Entropia Cultural: o ladrão invisível do engajamento

Imagina que você tá num barquinho, remando com sua equipe rumo a um objetivo bonito, tipo “norte inspirador”, “propósito coletivo” ou aquele projeto que, no PowerPoint, parece até emocionante. Só que, no meio da travessia, percebe que a água tá entrando no casco. Devagarinho. Ninguém sabe de onde vem, mas a galera começa a remar mais devagar, olhar de lado, desconfiar dos outros, e, sem perceber, o barco começa a girar em círculos. Bem-vindo à Entropia Cultural – a quantidade de energia em uma organização que se encontra indisponível para o trabalho útil. 

Entropia Cultural é o nome chique pra desordem organizacional silenciosa. Aquele ambiente onde a gente gasta mais energia se defendendo do que se conectando. Onde se fala de propósito nas paredes, mas se vive o medo nos corredores. Onde a confiança é frágil e a política do “salve-se quem puder” se disfarça de eficiência.

E aqui vai a matemática emocional da coisa:

Quanto maior a entropia cultural, menor o engajamento real da equipe.

Isso porque o engajamento nasce onde tem segurança psicológica, clareza de valores e espaço para autenticidade. E a entropia suga tudo isso com um canudinho invisível.

Os sintomas mais comuns?

  • Gente talentosa se apagando;
  • Silêncios estratégicos nas reuniões (“melhor não me meter…”);
  • Time dividido em torcidas (“RH vs Operações”, “Júnior vs Sênior”);
  • Líderes exaustos tentando empurrar cultura com ferramenta;
  • E aquele velho conhecido: a reunião que poderia ter sido uma conversa sincera.

Só que aqui vem o pulo do gato:

Cultura não é o que a gente escreve. É o que a gente permite.

E nessa história, a liderança não é coadjuvante. É protagonista. Cada escolha, cada silêncio, cada e-mail copiado com “alfinetadinha”, cada microdecisão… ou nutre uma cultura viva ou aumenta a entropia.

Este é um assunto profundo, complexo, mas necessário. E a melhor forma de refletir mais sobre ele é dando um primeiro passo, de autoconhecimento. 

Um exercício de autoconhecimento para lideranças

Se você lidera gente, lidera cultura. Ponto.
Então bora pra um exercício simples e poderoso, que pode abrir clarabóias no seu dia a dia:

Espelho Cultural – 3 Perguntas, mil reflexões

Reserve 20 minutos (sozinho, sem celular) e reflita com honestidade brutal:

  1. “Que tipo de energia a minha presença espalha na equipe?”
    (Você é alguém com quem as pessoas relaxam ou se contraem?)
  2. “O que no meu comportamento alimenta medo, competição ou silêncio nos outros?”
    (Pense nas entrelinhas, nos seus não-ditos, nos olhares que cortam ou evitam…)
  3. “O que eu poderia mudar amanhã pra gerar mais confiança ao meu redor?”
    (Coisas pequenas, práticas, do tipo: “pedir desculpas”, “fazer perguntas reais”, “ouvir sem preparar resposta”.)

Escreva. Não no bloco de notas virtual. À mão. O cérebro agradece.

Até a próxima, 

Gustavo Bonafé. 

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